Tipos de pesquisa

Tipos de pesquisa científica


As pesquisas podem ser classificadas quanto a seu tipo de objetivo e ao tipo de metodologia para responder ao objetivo.

Os principais tipos de objetivo são:

Depois de definir o objetivo da pesquisa, é preciso decidir como esse objetivo será buscado, isto é, qual será a metodologia da pesquisa. Há seis tipos básicos de metodologia

Essas não são categorias estanques. É comum que um trabalho combine elementos de diferentes tipos.

A primeira distinção é aquela entre trabalhos de revisão e trabalhos originais. A revisão de literatura consiste em reunir as fontes de informação (artigos, reportagens, leis, sites etc.) sobre determinado assunto, analisando as diferenças e semelhanças entre elas, tentando resumir o que já se sabe sobre aquela área. Na verdade, todos os artigos devem incluir uma revisão de literatura em algum ponto do texto (também chamada de "revisão bibliográfica", "referencial teórico", "fundamentação teórica" ou "estudos anteriores"). No entanto, algumas pesquisas se concentram em fazer apenas uma revisão do assunto, fazendo-a de maneira mais abrangente e detalhada. Essa é uma tarefa muito trabalhosa e muito valorizada, pois exige compreender uma grande quantidade de pesquisas.

Há dois tipos de revisão de literatura. A revisão narrativa é o tipo que você fará em seu artigo para essa disciplina. Ela consiste em uma pesquisa exploratória, em que a seleção das fontes de informação que serão resumidas é feita a partir do que o pesquisador considera importante, sem a definição de critérios explícitos sobre quais fontes incluir e sem a preocupação de incluir todos os trabalhos relevantes acerca do assunto (SILVA, 2019).

O segundo tipo de revisão de literatura é a revisão sistemática. Como o próprio nome indica, ela exige a definição clara de quais termos de busca e quais critérios serão utilizados na seleção das fontes de informação, com o intuito de reunir todas as informações relevantes sobre o tema (SILVA, 2019).  As revisões sistemáticas são muito utilizadas na área da saúde, mas vêm ganhando cada vez mais espaço nas ciências sociais. 

Aqui na disciplina faremos um artigo de revisão narrativa, pois ela é menos trabalhosa do que a revisão sistemática e dá mais espaço para o pesquisador desenvolver suas ideias e sua escrita.

Agora que já sabemos o que são os artigos de revisão, vejamos o segundo tipo de artigos, que são os artigos que apresentam pesquisas originais. Os artigos originais são aqueles que apresentam novidades, isto é, os resultados de pesquisas que ainda não haviam sido feitas. Isso acontece quando o pesquisador fez novas entrevistas, coletou novos dados, realizou novos experimentos ou fez análises inovadoras de dados já conhecidos. 

As pesquisas originais podem teóricas ou empíricas. Os trabalhos teóricos se concentram em analisar conceitos, ideias ou definições, enquanto os trabalhos empíricos são aqueles que se baseiam em análises de dados, as informações sobre como o mundo é ("empírico" se refere ao que foi vivido). Por exemplo, uma análise sobre o que define um país desenvolvido é um estudo teórico, mas uma análise da quantidade de demissões em Minas Gerais no último ano é um estudo empírico.

Você provavelmente já ouviu as pessoas fazerem a distinção entre teoria e prática (ou empiria, o que é empírico). Por exemplo, "na teoria, o Brasil deveria ganhar a partida, mas é preciso ver o que vai acontecer na hora do jogo" ou "depois de assistir cinco vídeos no YouTube, eu já sei fazer bolo de cenoura na teoria, agora é preciso ver na prática".

Nem sempre há uma separação rígida entre esses tipos de pesquisa. É comum os trabalhos empíricos fazerem algum tipo de análise conceitual, assim como é também comum que os trabalhos teóricos façam algum tipo de análise de dados. Um artigo pode começar detalhando as diferenças de rentabilidade entre diferentes tamanhos de empresa e terminar discutindo como definir se uma empresa é familiar ou não.

Matemática e Direito são exemplos de ciências predominantemente teóricas, ao passo que Medicina e Agronomia são ciências muito empíricas. E há ciências mistas, que possuem tanto aspectos teóricos quanto empíricos. Este é o caso das Ciências Contábeis, das Ciências Atuariais, da Economia e da Administração Pública.

A distinção entre pesquisas teóricas e empíricas tende a se alinhar com a diferença entre dois tipos de raciocínio: dedutivo e indutivo. Os estudos teóricos normalmente são dedutivos (isto é, partem de uma regra geral para explicar casos específicos) enquanto os estudos empíricos são indutivos (tentam chegar a uma regra geral a partir do estudo de casos específicos).

Como dito acima, tanto os trabalhos matemáticos quanto os trabalhos jurídicos são exemplos de trabalhos teóricos. Partindo da definição de que o triângulo é a figura geométrica de três lados, os matemáticos tiram certas conclusões sem precisar medir nenhum triângulo real (uma informação empírica). Da mesma maneira, os juízes e advogados discutem qual é a melhor interpretação de certo artigo da Constituição Federal para fazer com que ele seja consistente com o restante dela, pressupondo que tudo o que está na Constituição é verdadeiro. Também é dessa maneira que boa parte das teorias econômicas são discutidas: partindo-se de certos pressupostos sobre os agentes econômicos e o funcionamento de determinado mercado, eles tentam demostrar que alguns acontecimentos são mais prováveis do que outros ou que certas ações do governo são mais adequadas do que outras. A Contabilidade também utiliza muito esse tipo de raciocínio. Por exemplo, dado o ativo e passivo é possível calcular o patrimônio líquido. 

O movimento no raciocínio indutivo, e nos trabalhos empíricos, é inverso: cientistas fazem experimentos com ratos em laboratório para tentar prever o que vai acontecer com outros seres vivos, incluindo seres humanos. Eles estão estudando um caso específico, porém com o objetivo de fazer uma generalização, a identificação do que é válido para todos os casos de um mesmo tipo de acontecimento. É o caso do engenheiro que testa protótipos de aviões em túneis de vento, de agrônomos que estudam partes de uma lavoura e de quem faz pesquisas de opinião para presidente com apenas 3 mil pessoas tentando prever como 160 milhões de eleitores votarão.

Portanto, enquanto os estudos empíricos buscam identificar regularidades nos dados sobre o que já aconteceu (p. ex. quanto tempo as empresas sobrevivem em média em Varginha), os trabalhos teóricos tentam encontrar melhores definições de certos conceitos ou as classificações mais adequadas para determinados fenômenos (por exemplo, o que é uma empresa familiar ou quantos setores econômicos existem).

A última divisão importante entre os tipos de pesquisa é entre três tipos de pesquisas empíricas. As pesquisas quantitativas e qualitativas normalmente possuem objetivos, técnicas de coleta de dados e técnicas de análise de dados muito diferentes. O terceiro tipo de pesquisa empírica, os estudos de caso, combinam aspectos quantitativos e qualitativos para investigar um caso específico.  

Em relação aos objetivos, os estudos quantitativos reduzem os acontecimentos a números e usam a estatística para analisar esses dados. Eles fazem isso para ganhar em poder de generalização. Por exemplo, quantas pessoas se endividaram por irresponsabilidade financeira? Por outro lado, os estudos qualitativos buscam captar como determinadas pessoas percebem o mundo, como é o mundo visto do ponto de vista dessas pessoas. Isso normalmente é feito analisando como as pessoas falam sobre as suas experiências. Eles fazem isso para ganhar em profundidade: a descrição detalhada de como as pessoas organizam em seu íntimo o que aconteceu com elas. Por exemplo, por que a pessoa fez uma dívida que sabia que teria dificuldade de pagar?

A segunda dimensão em que pesquisas quanti e qualitativas se distinguem é o tipo de técnica de coleta de dados. Os estudos quantitativos em ciências sociais normalmente se baseiam na aplicação de questionários com respostas fechadas, individuais e sem interferência do pesquisador. Por exemplo, pedindo ao entrevistado para informar sua idade, sua renda ou avaliar a satisfação com sua vida financeira em uma escala de 1 a 5 (de completamente insatisfatório a completamente satisfatório). 

Já os estudos qualitativos normalmente usam questionários com respostas abertas (as entrevistas semi-estruturadas) ou mesmo entrevistas sem perguntas pré-definidas (chamadas de "entrevistas em profundidade"), sem necessariamente usar as mesmas perguntas para todos os entrevistados. Para saber mais sobre pesquisas qualitativas e os diferentes tipos de entrevista, veja o artigo "Da fala do outro ao texto negociado: discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa" (FRASER; GONDIM, 2004).

Além das entrevistas semi-estruturadas e das entrevistas em profundidade, dois tipos de técnicas de coleta de dados específicos das pesquisas qualitativas são os grupos focais e a etnografia. Os grupos focais são situações em que várias pessoas são entrevistadas ao mesmo tempo e são estimuladas por comentários do entrevistador a suas respostas. Por sua vez, a etnografia é o tipo de pesquisa em que o pesquisador estuda sua própria experiência. Por exemplo, quando vão viver por um tempo em uma clínica de dependentes químicos.

A terceira dimensão em que pesquisas quanti e qualitativas se diferenciam é em relação à técnica de análise dos dados. As pesquisas quantitativas fazem uso intensivo da estatística: análise estatística descritiva, análise de regressão, análise de agrupamento, dentre outras. Por sua vez, embora muitas vezes incluam também estatísticas descritivas, nas pesquisas qualitativas predominam técnicas de análise de texto como análise de conteúdo e análise do discurso, pois lidam com os textos das entrevistas, buscando captar significados profundos no que os entrevistados disseram.   

Por fim, os estudos de caso podem incluir tanto aspectos teóricos quanto empíricos, tanto metodologias qualitativas quanto quantitativas. Essas são pesquisas que se dedicam a descrever e analisar um objeto específico (uma empresa, um órgão do governo etc.), realizando análises documentais (descrição e resumo de documentos, tais como testamentos, certificados, livros contábeis etc.) e também usando dados quantitativos e diferentes tipos de entrevistas.  

Como foi dito no início desta seção, essas distinções (pesquisas de revisão e originais, teóricas e empíricas, quantitativas e qualitativas) não são rígidas, é comum que os artigos contenham aspectos de categorias diferentes. Por exemplo, as pesquisas históricas são um caso de difícil classificação, pois elas incluem tanto discussões teóricas (a definição de democracia, de capitalismo, de trabalho livre etc.) quando análises empíricas (de dados, de documentos, entrevistas, de declarações públicas de pessoas famosas etc.). É o que se pode chamar de uma metodologia mista.

Por isso, não espere que os artigos sejam puramente teóricos ou empíricos, quantitativos ou qualitativos, originais ou de revisão. Espere encontrar artigos de revisão que incluam alguma análise quantitativa, artigos empíricos que contenham alguma discussão teórica e todas as outras variações possíveis. Veja no final desta página exemplos de artigos das diferentes categorias apresentadas.  


Referências

FRASER, M.; GONDIM, S. Da fala do outro ao texto negociado: discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Paidéia,  v. 14, n. 28, 2004.

SILVA, W. Contribuições e limitações de revisões narrativas e revisões sistemáticas na área de negócios. Revista de Administração Contemporânea, v. 23, n. 2, 2019.  


Exemplo de artigo revisão de literatura narrativa 

Exemplo de artigo de revisão de literatura sistemática

Exemplo de pesquisa teórica

Exemplo de estudo qualitativo, outro (entrevistas em profundidade)

Exemplo de estudo qualitativo, outro, outro (grupo focal)

Exemplo de artigo quantitativo 

Exemplo de relatório de pesquisa quantitativa (PNADC)

Exemplo de estudo de caso